domingo, 28 de julho de 2019

Apresentação

Ao citar o poema “Tabacaria” de Álvaro de Campos, heterônimo
de Fernando Pessoa, e ao dialogar com o universo poético do
escritor português, esta sensível e comovente narrativa em versos
acompanha um menino em sua missão de buscar água no rio de
sua aldeia – missão essa atravessada por dificuldades, frustrações,
incertezas, emoções, reflexões e, sobretudo, sonhos.
“Todos os sonhos do mundo”.
Literatura falando de literatura. Encontro de poesias, angústias,
esperanças, poetas, vidas e pessoas. Homenagem de um
Fernando para outro Fernando. Proposta de introduzir o público
infantojuvenil à obra literária de Pessoa.
Não sou nada é um pouco disso tudo.

Livro aprovado pelo PNLD 2020

Onda

Páginas internas

Com uma pedra, criou uma onda no
rio tranquilo que,
Com certeza, não era o mais belo
que passava em sua aldeia.
Podia, enfim, criar! Contente com
sua criação, entretanto não
a pôde conter.
A onda tinha vida própria.
Será que toda criação teria
essa vontade de se libertar do
seu criador?

“Não sou nada.
Nunca serei nada...”
Molhou os pés e separou a água para
o balde.
Sua tarefa não era criar, e sim levar.

Pessoa à janela

Páginas internas
Um homem sentado a uma janela
escreve.
As asas do menino adivinham
A caligrafia rápida
Dos sonhos ainda mais velozes do
homem.
Ele sonha que conquistaria o mundo
inteiro
Se deixasse de sonhar.
E sonhando, conquista o mundo
inteiro para o menino.

“Não sou nada.
Nunca serei nada...”
O menino que voa sonha que voa.

Capa

Não sou nada - M10 Editorial

terça-feira, 4 de junho de 2019

Relatório do FNDE sobre a obra Não sou nada


A narrativa acompanha a jornada de um menino que, com seu balde, deve coletar água do rio para levar para casa. Mas o caminho tem seus percalços e sua mente vagueia por muitos pensamentos. Logo no início, ele de repente se vê frente a frente com um touro raivoso. Quando o animal tenta atacá-lo, o menino foge, mas antes reflete: “Não sou nada”.
Textualmente a obra rompe com as convenções do gênero positivamente visto que suas escolhas lexicais estimulam a sensibilidade literária e não fazem referência a violência ou a intolerância. Explora os recursos espaciais das palavras e imagens relacionando-se semanticamente com as ilustrações.
Utilizando também recursos estéticos e intertextualidade. Visualmente a obra estimula múltiplos sentidos potencializando a experiência de leitura do livro em sua qualidade que ampliam os sentidos do texto e seu caráter polissêmico.
No que tange ao projeto gráfico-editorial a obra literária merece destaque pela nítida preocupação do tratamento da temática com a faixa etária do leitor, como também a qualidade estético-visual, pela técnica gráfica e na disposição das imagens.
Esta perspectiva gráfico-editorial contribui para a mobilização do interlocutor à leitura, desenvolvendo sua habilidade leitora a partir de diferentes perspectivas
e visões de mundo, possibilitados pela experiência literária.
Assim a obra literária promove a ampliação da competência crítica do leitor por meio da reflexão da temática abordada. Nota-se que as articulações da significância literária, construções verbais contribuem para a integração coerente dos elementos da obra literária.

O texto aborda a realidade do personagem com delicadeza e poesia: “Deitou-se de costas para abraçar o céu. Amassou o mato contra o chão. Com certeza ele tinha mais força do que as suas hastes. A fina folha em forma de filete logo voltou a se erguer assim que se levantou.”(p.15). As figuras de linguagem são empregadas com qualidade, tornando as como mais um recurso de expressividade ao texto, como é o caso de metáforas. A obra e o texto são marcados de características polissêmicas, e neste caso, pode-se constatar o dinamismo e a flexibilidade da língua permitindo ao aluno elaborar diferentes leituras, assim como, possibilita ao professor ampliar o debate sobre diferentes pontos de vistas: “Soprou uma teia com seus pés. Poderia destruir a frágil trama. Ele tinha poder de criar ao contrário. Se a destruísse.” (p.19)
O diálogo com a tradição. São fortemente empregadas em suas formas orais e escritas neste texto literário o que corresponde adequadamente, as convenções do gênero e está garantida no percurso da narrativa fortalecendo e ampliando o repertório das formas literárias.
Cabe destacar que o texto rompe na medida em que o aspecto temático abordado defronta com os padrões vigentes relativos às produções para crianças. A preservação do foco narrativo por meio das figuras ficcionais das cenas traz uma condição de harmonia entre a realidade representada e sua enunciação ao leitor o que contribui para ampliar o repertório do aluno em relação às formas literárias.
No decorrer do texto não há evidências e nem registros de apologia a ideias preconceituosas e comportamentos excludentes e nem registros da exploração da violência e/ou da morte. Observa-se considerável expansão de vocabulário, assim como apresenta uma linguagem compreensível para os leitores dessa faixa etária. O texto verbal está isento de apologias a ideias preconceituosas e comportamentos excludentes, assim como não explora ou motiva práticas violentas nem explicita a morte de maneira acrítica, bem como não se limita a tipificação de estereótipos e não incita práticas violentas, preconceituosas e comportamentos excludentes como observado no trecho “Procurava nas migalhas da memória o gosto do chocolate nunca comido” (pág. 33).
O texto verbal, também, de destaca pela preocupação linguística e, no que tange aos vocábulos utilizados na obra, a adequação à faixa etária do estudante, como observado no trecho “A lata amassada e fria não segura o seu conteúdo sozinha.” (pág.37). A obra literária não se caracteriza enquanto obra em língua inglesa nem como livro brinquedo.

Nesta obra, as imagens não só ampliam as referências estéticas do leitor como lhe possibilitam outras formas de ver aquilo que, talvez, lhe seja rotineiro. Já desde o invólucro, mais do que ilustrar, elas sugerem e, assim, ampliam as possibilidades significativas do texto verbal. Na capa, por exemplo, é possível inferir quem seria a personagem e suas expressões faciais, assim como a postura do corpo, já dão indícios do sentimento que a acompanha ao longo da narrativa poética: "Não sou nada". No geral, as ilustrações antecipam o texto verbal e estimulam o imaginário. Na página 10, por exemplo, tem-se a imagem de um rosto, em que os olhos são de humano e a fuça de ovelha, antecipando as relações que o texto faz na página seguinte. O leitor atento também vai perceber os detalhes do texto não verbal. Na página 30, há a imagem de Fernando Pessoa escrevendo junto a uma janela e o texto das páginas seguintes faz referência a esse homem e ao texto que deu origem a este poema - "Tabacaria", sem citar sua identidade, subliminarmente revelada na página 39, quando o texto verbal diz: "Quem era aquela / Pessoa à janela?". Os recursos visuais contribuem, pois, para ampliar as referências estéticas do leitor e, ainda, aguçar seu olhar aos detalhes do mundo que nos rodeia, para além do que os olhos veem. O texto visual evidencia interação das imagens e/ou ilustrações com o texto verbal, contribuindo para a experiência estética do leitor. O texto visual explora recursos visuais com vistas à experiência estética e literária.
O traço é coloridamente delicado. Dialogando com a polissemia do texto e deixando a sugestão como o percurso da narrativa. Contribuindo ainda mais para que a visual pertença e seja uma manifestação poética das metáforas e simbologias que o texto verbal provoca. (p.36, 38, 42)
O texto visual está isento de apologia a ideias preconceituosas e comportamentos excludentes. No livro todos os recursos visuais contribuem para construir um jogo lúdico de imagens. O autor brinca com o imaginário, instiga a criatividade e a percepção (p.46). O texto visual está isento de incentivo à violência de forma acrítica.
A delicada simplicidade do texto verbal é acompanhada pela simplicidade efetiva do texto visual, que funciona como uma tradução direta e sugestiva do texto estimulando, assim, o imaginário dos leitores. Não há quaisquer apologias a preconceitos ou à violência no texto visual.

O critério de tratamento e adequação ao tema atende a categoria, Ensino Fundamental, do público indicado na obra. Não observa abordagens simplificadora, superficiais e homogeneizantes. narrativa possibilita diferentes perspectivas, do ponto de vista apresentado pelas obras de modo a ampliar a visão de mundo. Não há indícios na de submissão do leitor a normas sociais ou estratégias de opressão que silenciem conflitos entre indivíduo e sociedade.
Vocabulário de fácil compreensão permitiu uma abordagem clara e concisa na abordagem do tema (Poesia e Aventura) e propiciam estímulos que ampliam, diversificam e consolidam o repertório dos alunos.
O texto encontra-se linguisticamente adequada a faixa etária que se destina, porque seus vocábulos são de fácil compreensão do público leitor ao qual é destinado, contribuindo, desse modo, para a consolidação e ampliação do repertório vocabular e temático do(a) aluno(a), como observado no trecho: “Na pouca água que ainda restava no balde. Era tarde Para voltar ao rio.” A obra literária não se caracteriza enquanto o livro brinquedo.

A obra literária apresenta os dados biográficos da autor/ ilustrador (p.163) e um resumo da obra de maneira sucinta na contracapa com o intuito de contextualizar as informações a fim de orientar e motivar ao leitor.
A partir dessas informações, observa que a obra se destaca pela nítida preocupação com os aspectos gráfico-editoriais como a diagramação, a fonte e corpo do texto, o espaçamento entre as linhas, as ilustrações, a fim de nortear a leitura, como as ilustrações
As escolhas estéticas contribuem para que a obra se destaque em sua visualidade e poesia literária. Consegue também relacionar harmoniosamente os recursos gráficos, em sua maioria, proporcionais e bem espacializados. Tais aspectos conduzem a uma leitura agradável e sensível ao universo em que a obra se propõe. Sobretudo sua diagramação de intertextos e simetrias.
Os elementos visuais também possibilitam a mobilização do interlocutor à leitura por meio da capa e contracapa da obra, que apresentam elementos presentes na obra sendo um convite a leitura.
A obra literária não se caracteriza como livro brinquedo, por isso, não é possível verificar a interação, e os efeitos gráfico-editoriais, bem como não é possível constatar sua resistência ao manuseá-lo nem sua ludicidade.
As ilustrações favorecem o diálogo com o texto verbal e reforça a narrativa. Além disso, toda essa situação fantasiosa proporcionada por este texto literário estimula a imaginação das crianças, antecipando a história.
As imagens simbólicas, cores, textos verbais e visuais presentes na capa da obra permite o leitor ativar a memória, assim como instiga o seu interesse pelo tema apresentado no interior do livro.

A obra caracteriza-se como literária porque permite ao interlocutor, por meio do tratamento peculiar que o autor mobilizar no interior e exterior da obra, transportar os limites superficiais do texto verbal e imagético, mobilizando outros conceitos e imagens a fim de promover e consolidar visões de mundo, conhecimento vocabular e temático num constante diálogo com a subjetividade que constitui o sujeito leitor, explorando, dessa forma, a função da literatura junto aos estudantes, como observado no trecho: “Você é tudo para mim! Ela colheu suas lágrimas e carinhosamente o beijou no rosto. E o menino poeta sorriu.”
É no entrelaçamento dos fatores constitutivos e constituintes, que o texto verbal e visual se caracteriza e se constitui se isentando de apologias preconceituosas, moralistas e estereotipadas, assim como demonstra a devida preocupação com a faixa etária a que se destina a obra conforme a declaração da editora no ato de inscrição, como também a correspondência ao gênero literário, que contextualizam sucintamente autor e obra.
Em todo o texto observa-se equilibrado diálogo entre as imagens visual e verbal o que contribuiu para uma configuração singular dessas duas linguagens.
Possibilitou instaurar modos de ler sensíveis aos efeitos produzidos no entrelaçamento dessas linguagens em relação aos elementos como a cor e as formas.
Os traços da composição visual foram tomados como componentes das escolhas de estilo que dividem as páginas com os textos verbais favorecendo a harmonia entre as linguagens.

Apresentação

Ao citar o poema “Tabacaria” de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, e ao dialogar com o universo poético do escritor portuguê...